De acordo com a denúncia, há algumas semanas, os
peixes estavam sendo retirados mortos do lago formado acima da barragem pelos
funcionários do Ceste, e depois sendo enterrados
Durante a estadia na cidade de Tocantinópolis, na
última quinta-feira, 18, a equipe da expedição Balsa de Buriti, de Marabá,
pediu um peixe frito em um quiosque tradicional, na orla do Rio Tocantins. A
dona informou que a única espécie disponível (há dias) era tambaqui, um peixe
engordado em criatórios particulares.
Diante da aparente incoerência, a Reportagem do
CORREIO DO TOCANTINS quis saber por que não havia tucunaré ou outra espécie tão
comum no Rio Tocantins, ali em frente. Raimunda Diamante Pires, 52 anos,
explicou que o peixe está escasso e os poucos que os pescadores da cidade
conseguem fisgar está sendo vendido muito caro. Ela sugeriu uma conversa com o
presidente da Colônia de Pescadores Z-7, João Haroldo Gomes de Almeida, para
dar detalhes sobre uma mortandade de peixes que atinge toda a região.
Almeida disse que sua entidade congrega 520
pescadores, os quais estão sofrendo, desde 2010, com uma avalanche de morte de
peixes em vários pontos do rio, desde a construção da Hidrelétrica do Estreito.
Ainda segundo ele, os pescadores estão revoltados e vários estão deixando a
profissão porque encontrar peixe no rio está sendo um trabalho de “mágico”.
O presidente revelou que a categoria já procurou o
Ministério Público Federal, que está analisando a situação e já acionou
judicialmente os empreendedores responsáveis pela hidrelétrica de Estreito, o
Ceste (Consórcio Estreito Energia).
João Haroldo diz que os pescadores estão tendo
grandes prejuízos nos últimos anos. “Fizemos um investimento em rede, canoa e
motor que hoje está tudo parado. Na parte de cima da barragem os peixes são
pequenos demais e na parte de baixo não tem mais peixe”, reclama Luiz.
Em duas semanas, 35 toneladas de peixes foram
retiradas do Rio Tocantins, nas margens da Usina Hidrelétrica de Estreito,
Maranhão, divisa com o estado. O prejuízo que afeta pescadores, ribeirinhos e
índios está não será compensado pelo Consórcio Estreito Energia (CESTE),
segundo os pescadores da região.
Valmir Alves Santana, pescador há 23 anos, diz que
nunca presenciou uma situação tão preocupante que ameaça a sobrevivência de
muita gente. “O Ceste finge que a gente nem existe, ignora mesmo o fato de não
estarmos conseguindo alimentar as nossas famílias”, Valmir, ressaltando que
atualmente está com sua canoa “no seco”.
De acordo com a denúncia, há algumas semanas, os
peixes estavam sendo retirados mortos do lago formado acima da barragem pelos
funcionários do Ceste, e depois sendo enterrados. “Eles estão tentando esconder
os verdadeiros impactos do empreendimento”, diz Valmir, que já percorreu vários
pontos de pesca juntos com outros colegas pescadores e fez dezenas de fotos que
comprova a mortandade.
A Colônia de Pescadores reclama uma série de ações
imediatas, com a paralisação da operação da UHE e a suspensão da Licença
Ambiental (LO) do empreendimento.
Esclarecimento
A Reportagem do CT enviou pedido de explicações para
o Ceste sobre a denúncia de mortandade de peixes no Rio Tocantins, às proximidades
da Hidrelétrica do Estreito, e a Assessoria de Imprensa informou, em nota, que
interrompeu no último dia 28 de março, os testes de “comissionamento da
primeira turbina, tão logo verificou um episódio de morte de peixes próximo à
casa de máquinas”. Segundo o consórcio, o fato foi comunicado no mesmo dia ao
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
(Ibama).
O Consórcio Estreito Energia desenvolve de forma
permanente, no âmbito do Projeto Básico Ambiental aprovado pelo Ibama, o
monitoramento da ictiofauna, através de consultores especializados.
O Ceste reitera que vem cumprindo todos os
compromissos por si assumidos no processo de licenciamento ambiental conduzido
pelo IBAMA, bem como com as obrigações decorrentes de sua posição como
responsável pela implantação deste empreendimento, sejam de ordem social ou
ambiental”.
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