Fazem parte da ação os povos Munduruku, Juruna, Kayapó,
Xipaya, Kuruaya, Asurini, Parakanã, Arara, além de pescadores e ribeirinhos
Cerca de 200 indígenas afetados pela construção de
hidrelétricas ocuparam nesta quinta-feira, 2, o principal canteiro de obras da
Usina Hidrelétrica Belo Monte no município de Vitória do Xingu, Pará. Eles
reivindicam a regulamentação da consulta prévia e a suspensão imediata de todas
as obras e estudos relacionados às barragens nos rios Xingu, Tapajós e Teles
Pires. A tropa de choque da Polícia Militar já esperava pelos indígenas, porém
não conseguiu os barrar.
Os povos presentes são: Munduruku, Juruna, Kayapó,
Xipaya, Kuruaya, Asurini, Parakanã, Arara, além de pescadores e ribeirinhos -
leia carta do movimento abaixo. Ao menos seis mil trabalhadores, segundo
estimativas do movimento, deixarão de atuar no canteiro. A ocupação, de acordo
com os indígenas, se manterá por tempo indeterminado – ou até que o governo
federal atenda as reivindicações apresentadas.
Ocupações contra a UHE Belo Monte e mobilizações contra
empreendimentos hidrelétricos se tornaram comuns na Amazônia. No último dia 21
de março, cerca de 100 indígenas, ribeirinhos e pequenos agricultores expulsos
afetados pela obra ocuparam o canteiro Pimental, um dos pontos de construção
mantido pelo Consórcio Construtor de Belo Monte (CCBM).
Nos canteiros da UHE Belo Monte, greves de
trabalhadores também vêm tirando o sossego da CCBM. No último dia 5 de abril,
cinco mil trabalhadores do canteiro de obras Pimental paralisaram as atividades
por conta das condições de trabalho e da demissão de 80 funcionários, no final
do ano passado. Até um espião que levava informações para a Agência Brasileira
de Informações (ABIN) foi descoberto (veja aqui vídeo do espião).
Ao invés do diálogo, a saída apresentada pelo governo
federal para trabalhadores, indígenas, ribeirinhos, pescadores e demais
comunidades tradicionais afetadas pelos empreendimentos foi o Decreto da
presidente Dilma Rousseff nº 7957/2013 (leia aqui sobre o decreto). De caráter
“preventivo ou repressivo”, a medida cria a Companhia de Operações Ambientais
da Força Nacional de Segurança Pública, tendo como uma de suas atribuições
“prestar auxílio à realização de levantamentos e laudos técnicos sobre impactos
ambientais negativos”.
Ainda no Pará, na divisa com o estado do Mato Grosso, o
povo Munduruku e comunidades tradicionais estão mobilizadas contra o Complexo
Hidrelétrico do Tapajós, que envolve um conjunto de usinas e barragens
(leiaaqui histórico). Durante o último mês de abril, cerca de 250 soldados da
Força Nacional e da Marinha foram deslocados, por solicitação do Ministério de
Minas e Energia, com base nos dispositivos do Decreto 7957, para municípios
onde incidem áreas afetadas pelos empreendimentos, além de território de
ocupação tradicional reivindicado pelo povo Munduruku.
Carta da ocupação de
Belo Monte
Nós somos a gente que vive nos rios em que vocês querem
construir barragens. Nós somos Munduruku, Juruna, Kayapó, Xipaya, Kuruaya,
Asurini, Parakanã, Arara, pescadores e ribeirinhos. Nós somos da Amazônia e
queremos ela em pé. Nós somos brasileiros. O rio é nosso supermercado. Nossos
antepassados são mais antigos que Jesus Cristo.
Vocês estão apontando armas na nossa cabeça. Vocês
sitiam nossos territórios com soldados e caminhões de guerra. Vocês fazem o
peixe desaparecer. Vocês roubam os ossos dos antigos que estão enterrados na
nossa terra.
Vocês fazem isso porque tem medo de nos ouvir. De ouvir
que não queremos barragem. De entender porque não queremos barragem.
Vocês inventam que nós somos violentos e que nós
queremos guerra. Quem mata nossos parentes? Quantos brancos morreram e quantos
indígenas morreram? Quem nos mata são vocês, rápido ou aos poucos. Nós estamos
morrendo e cada barragem mata mais. E quando tentamos falar vocês trazem
tanques, helicópteros, soldados, metralhadoras e armas de choque.
O que nós queremos é simples: vocês precisam
regulamentar a lei que regula a consulta prévia aos povos indígenas. Enquanto
isso vocês precisam parar todas as obras e estudos e as operações policiais nos
rios Xingu, Tapajós e Teles Pires. E então vocês precisam nos consultar.
Nós queremos dialogar, mas vocês não estão deixando a
gente falar. Por isso nós ocupamos o seu canteiro de obras. Vocês precisam
parar tudo e simplesmente nos ouvir.
Vitória do Xingu (PA), 02 de abril de 2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário