Dono de 12% de toda a água doce do planeta, o Brasil
está preparando uma mudança no sistema elétrico para não ficar mais tão
dependente das hidrelétricas. As térmicas vão atuar ao lado das hidráulicas, em
um sistema híbrido ou hidrotérmico.
Um dos passos para fazer essa mudança é a retomada nos
próximos dois anos da contratação, pelo governo, de térmicas movidas a gás
natural, mas não é o único.
O governo, segundo o plano desenhado no Ministério de
Minas e Energia, está disposto a enfrentar a provável resistência para ampliar
fortemente a geração térmica com carvão mineral e até a proposição de novos
projetos de usinas nucleares em parceria com o setor privado.
A energia das usinas térmicas é mais suja e poluente
que a das hidrelétricas, mas ela oferece uma estabilidade maior para o sistema,
hoje muito dependente das chuvas --como mostram os problemas no início deste
ano.
Responsável por moldar toda essa mudança, o secretário
de planejamento e desenvolvimento energético da pasta, Altino Ventura, disse
que o conjunto do parque de geração hidrelétrica no Brasil --que representa 70%
da matriz elétrica-- precisa ser reforçado com termelétricas.
"As hidrelétricas sozinhas já não dão conta de
atender a demanda do país. Já usamos termelétricas para complementar a oferta,
mas o que precisamos agora é buscar térmicas com custo de combustível barato
para fazer com que gerem durante todo o tempo, como fazem as
hidrelétricas", afirma.
Segundo Ventura, o governo terá o desafio agora de
viabilizar a contratação de usinas térmicas que tenham custo de combustível
baixo, até mesmo com preços abaixo de R$ 100 o megawatt/hora.
Hoje, as térmicas a gás natural disputam os leilões com
preços acima de R$ 150 o megawatt/hora e têm perdido a competição para as
eólicas.
Sem o preço mais baixo das térmicas, o país terá
problemas em manter o plano de redução da tarifa de energia.
Hoje, há térmicas movidas a óleo diesel e óleo
combustível com custo de até R$ 1.000 o MWh, valor que é repassado ao
consumidor.
No caso das usinas nucleares, o problema é o valor do
investimento e o tempo de implantação do projeto (dez anos), mas o custo da
energia, após o início das operações, é baixo. Para as movidas a carvão, a
vantagem é que há reservas abundantes com baixos preços no Sul.
Já a oferta de gás natural é mais complicada. A
produção da Petrobras é baixa e a opção da importação do Gás Natural Liquefeito
é cara. Por isso, o governo anunciou leilões de possíveis reservas de gás de
xisto para dezembro.
MOTIVO
O governo se convenceu de que precisará adicionar
térmicas na base da geração para atender o crescimento da demanda de 4,8% ao
ano ao longo desta década. Até 2021, horizonte do atual Plano Decenal de
Energia, a carga necessária para abastecer o Sistema Interligado passará de 61,5
mil MW médios para 90,3 mil MW médios.
O uso das termelétricas no país não é novo --o
investimento cresceu após o apagão de 2001 e, hoje, soma mais de 30.000 MW em
capacidade instalada. Mas elas eram contratadas para eventualidades, e não para
o dia a dia.
Em média, essas usinas funcionam 39% do tempo. Agora, a
ideia é que elas operem 100% do tempo, algo inviável hoje, já que há usinas com
custos muito altos.
Por isso, a forma do leilão será alterada. Em vez de
contratar as térmicas por disponibilidade, as usinas serão contratadas por
quantidade de energia gerada. Por isso, o custo da energia tem de ser baixo.
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