Depois das distribuidoras de energia elétrica, serão as
geradoras que vão pedir socorro financeiro ao governo federal. A Associação
Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) calcula que
as empresas terão de desembolsar cerca de R$ 4 bilhões em janeiro apenas para
pagar pelo risco hidrológico, que obriga as geradoras a comprar energia no
mercado disponível para honrar a diferença entre o volume produzido e a energia
comprometida nos seus contratos de abastecimento.
A Apine estima que as hidrelétricas deixaram de
produzir, em média, 26% da energia contratada no primeiro mês de 2013, quando o
país enfrentou uma grave escassez de água nas principais bacias hidrográficas.
"Pedimos [ontem], com urgência, uma audiência com
o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio
Zimmermann", afirmou Luiz Fernando Vianna, presidente da Apine. Entre as
medidas avaliadas, a entidade pedirá ao governo uma linha de financiamento
especial do BNDES.
Segundo Vianna, o rombo no fluxo de caixa das
hidrelétricas será quatro vezes maior que o das distribuidoras, estimado em
torno de R$ 1 bilhão em janeiro. As distribuidoras precisam arcar com os custos
da geração térmica até a data do reajuste tarifário, que é feito uma vez por
ano pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e já pediram ajuda do
governo para financiar o seu capital de giro.
A energia que não foi produzida em janeiro precisará
ser comprada na Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) pelas geradoras,
que terão de pagar o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) vigente. O PLD é
estabelecido semanalmente e reflete o custo para a geração de energia.
Devido à forte queda no nível dos reservatórios das
hidrelétricas, praticamente todas as usinas térmicas do país precisaram ser
ligadas, o que fez com que PLD disparasse, atingindo um dos mais altos
patamares da história. Em janeiro, segundo a Apine, o PLD médio situou-se em
torno de R$ 410 por MWh.
"Não somos contra o pagamento [do risco
hidrológico]. Essa é a regra do jogo", afirma Vianna. "O que pedimos
é algum tipo de financiamento para equacionar o fluxo de caixa das geradoras,
que podem enfrentar problemas para pagar pela energia."
Nem todas as geradoras serão afetadas. As hidrelétricas
que tiveram as suas concessões renovadas recentemente, como as controladas pelo
grupo Eletrobras, passaram a ficar livres do risco hidrológico. Portanto, essas
usinas não estão mais expostas ao PLD, o que será uma grande vantagem neste
ano. Mas risco hidrológico ainda vale para as demais hidrelétricas do país,
mesmo as que foram construídas recentemente.
Segundo Vianna, a situação é mais crítica para as
geradoras do que para as distribuidoras. No caso da distribuição, as despesas
com a geração térmica serão, em algum momento do ano, repassadas às tarifas
cobradas pelas companhias, que poderão recompor a sua geração de caixa. Mas, no
caso da geradoras, essa despesa excepcional não será recuperada mais tarde.
Os motivos do rombo de
R$ 4 bi das geradoras de energia
Por R Godinho
Entendeu tudo errado.
As geradoras vendem energia em contratos de longo e
médio prazo. O excedente, que ocorre nas épocas de cheia dos rios, são vendidos
no mercado spot.
Acontece que, como não houve chuvas, não houve água
suficiente para girar as turbinas e produzir a energia contratada. Nesses
casos, a solução é comprar no mercado spot. Mas não havia energia hidrelétrica
disponível no país inteiro, e a produção foi feita por térmicas. O preço da
energia das térmicas não é fixo, como nos contratos das hidrelétricas. É
variável, e disparou, tal qual o preço do tomate.
Houve um desequilíbrio momentâneo, mas que está
custando a bagatela de R$ 4 bi às geradoras, que é a diferença entre o preço de
venda da energia já contratada e o preço de compra no mercado spot. Não há
pilantragem, malandragem, vagabundagem, nenhuma sacanagem, nessa situação. Há
duas soluções possíveis: dizer FO...-SE para as geradoras e deixá-las falir ou
passar por dificuldades desnecessárias, que podem piorar a situação no futuro
não muito distante, com falências ou paralizações provocadas por falta de
manutenções adiadas por problemas financeiros, ou procurar um modo de tapar o
buraco, recuperando o valor mais lá na frente (um empréstimo-ponte, por
exemplo).
Pra quem não sabe, as geradoras, nessa reformulação do
setor elétrico, estão tendo uma redução de receitas que podem chegar a até 2/3.
Quem tinha colchão de reserva está com dificuldades. Quem não tinha, está
perigando falir. Algumas estatais estão atoladas em dívidas, em razão dos
elevados investimentos feitos nos últimos anos, os quais só vão maturar em dois
ou três anos. O que fazer, então? Se o governo não ajudar a fazer a travessia
desse período de adaptação, nas privadas e nas estatais, agravado pela falta de
chuvas, corremos o risco de dentro de dois anos entrarmos em uma situação de
racionamento de energia.
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