segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Geradoras de energia querem ajuda para cobrir rombo

Por Claudia Facchini
Depois das distribuidoras de energia elétrica, serão as geradoras que vão pedir socorro financeiro ao governo federal. A Associação Brasileira dos Produtores Independentes de Energia Elétrica (Apine) calcula que as empresas terão de desembolsar cerca de R$ 4 bilhões em janeiro apenas para pagar pelo risco hidrológico, que obriga as geradoras a comprar energia no mercado disponível para honrar a diferença entre o volume produzido e a energia comprometida nos seus contratos de abastecimento.
A Apine estima que as hidrelétricas deixaram de produzir, em média, 26% da energia contratada no primeiro mês de 2013, quando o país enfrentou uma grave escassez de água nas principais bacias hidrográficas.
"Pedimos [ontem], com urgência, uma audiência com o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Márcio Zimmermann", afirmou Luiz Fernando Vianna, presidente da Apine. Entre as medidas avaliadas, a entidade pedirá ao governo uma linha de financiamento especial do BNDES.
Segundo Vianna, o rombo no fluxo de caixa das hidrelétricas será quatro vezes maior que o das distribuidoras, estimado em torno de R$ 1 bilhão em janeiro. As distribuidoras precisam arcar com os custos da geração térmica até a data do reajuste tarifário, que é feito uma vez por ano pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), e já pediram ajuda do governo para financiar o seu capital de giro.
A energia que não foi produzida em janeiro precisará ser comprada na Câmara de Comercialização de Energia (CCEE) pelas geradoras, que terão de pagar o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD) vigente. O PLD é estabelecido semanalmente e reflete o custo para a geração de energia.
Devido à forte queda no nível dos reservatórios das hidrelétricas, praticamente todas as usinas térmicas do país precisaram ser ligadas, o que fez com que PLD disparasse, atingindo um dos mais altos patamares da história. Em janeiro, segundo a Apine, o PLD médio situou-se em torno de R$ 410 por MWh.
"Não somos contra o pagamento [do risco hidrológico]. Essa é a regra do jogo", afirma Vianna. "O que pedimos é algum tipo de financiamento para equacionar o fluxo de caixa das geradoras, que podem enfrentar problemas para pagar pela energia."
Nem todas as geradoras serão afetadas. As hidrelétricas que tiveram as suas concessões renovadas recentemente, como as controladas pelo grupo Eletrobras, passaram a ficar livres do risco hidrológico. Portanto, essas usinas não estão mais expostas ao PLD, o que será uma grande vantagem neste ano. Mas risco hidrológico ainda vale para as demais hidrelétricas do país, mesmo as que foram construídas recentemente.
Segundo Vianna, a situação é mais crítica para as geradoras do que para as distribuidoras. No caso da distribuição, as despesas com a geração térmica serão, em algum momento do ano, repassadas às tarifas cobradas pelas companhias, que poderão recompor a sua geração de caixa. Mas, no caso da geradoras, essa despesa excepcional não será recuperada mais tarde.
Os motivos do rombo de R$ 4 bi das geradoras de energia
Por R Godinho
Entendeu tudo errado.
As geradoras vendem energia em contratos de longo e médio prazo. O excedente, que ocorre nas épocas de cheia dos rios, são vendidos no mercado spot.
Acontece que, como não houve chuvas, não houve água suficiente para girar as turbinas e produzir a energia contratada. Nesses casos, a solução é comprar no mercado spot. Mas não havia energia hidrelétrica disponível no país inteiro, e a produção foi feita por térmicas. O preço da energia das térmicas não é fixo, como nos contratos das hidrelétricas. É variável, e disparou, tal qual o preço do tomate.
Houve um desequilíbrio momentâneo, mas que está custando a bagatela de R$ 4 bi às geradoras, que é a diferença entre o preço de venda da energia já contratada e o preço de compra no mercado spot. Não há pilantragem, malandragem, vagabundagem, nenhuma sacanagem, nessa situação. Há duas soluções possíveis: dizer FO...-SE para as geradoras e deixá-las falir ou passar por dificuldades desnecessárias, que podem piorar a situação no futuro não muito distante, com falências ou paralizações provocadas por falta de manutenções adiadas por problemas financeiros, ou procurar um modo de tapar o buraco, recuperando o valor mais lá na frente (um empréstimo-ponte, por exemplo).
Pra quem não sabe, as geradoras, nessa reformulação do setor elétrico, estão tendo uma redução de receitas que podem chegar a até 2/3. Quem tinha colchão de reserva está com dificuldades. Quem não tinha, está perigando falir. Algumas estatais estão atoladas em dívidas, em razão dos elevados investimentos feitos nos últimos anos, os quais só vão maturar em dois ou três anos. O que fazer, então? Se o governo não ajudar a fazer a travessia desse período de adaptação, nas privadas e nas estatais, agravado pela falta de chuvas, corremos o risco de dentro de dois anos entrarmos em uma situação de racionamento de energia.

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