Por trás da manutenção de
projetos nucleares no Brasil está o esgotamento, em apenas 20 anos, de novas
fontes da tradicional energia hidrelétrica. As hidrelétricas respondem hoje por
85% da geração elétrica, mas a limitação de rios e o rigor cada vez maior com a
preservação ambiental forçam o País a buscar novas alternativas, de acordo com
o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.
"Daqui a 20 anos não teremos
mais como construir usinas hidrelétricas. Não poderemos usar todo o potencial,
mas algum, por limitações ambientais, como já está ocorrendo", afirma ao
iG o responsável pelo planejamento energético do País. Ele lembra que o governo
mapeou outras usinas além de Belo Monte no rio Xingu, no Pará, mas voltou atrás
por questões ambientais. Mais de 60% do potencial hidrelétrico está na região
amazônica, "daí porque não poderemos aproveitar como gostaríamos".
Araguaia
e Negro
Entre os rios que guardam
potencial para abrigar hidrelétricas, segundo a EPE já mapeou, estão o Negro,
em Manaus; Teles Pires, em Mato Grosso; Tapajós, no Pará; e o Araguaia, no
Tocantins. "Vamos ter que conciliar necessidade de geração com preservaçao
ambiental por isso o potencial será esgotado mais rapidamente"
A energia solar "entrará
forte" na próxima década, segundo Tolmasquim. Até lá, segundo ele, o preço
já estará bem mais viável e acessível ao consumidor brasileiro. Atualmente, a
energia solar custa até cinco vezes mais que a eletricidade gerada por
hidrelétricas. Cada MW/hora gerado a partir do sol custa entre R$ 450 e R$ 500,
dependendo da tecnologia. A hidrelétrica não passa de R$ 100, cada MW/hora,
enquanto o preço da eólica e da energia térmica é da ordem de R$ 140 e a
nuclear, R$ 150. A energia térmica varia muito de preço, mas está na faixa da
eólica.
Energia da biomassa e gerada por
ventos também ganharão espaço no longo prazo, mas precisam de reforços de
outras fontes, explica Tolmasquim. "Eólica não dá para substituir mas sim complementar
porque só tem vento em determinadas épocas do ano e a biomassa depende também
dos períodos de safra da cana-de-açúcar".
Nuclear
como alternativa
"O País vai chegar num
momento em que precisará de outras alternativas. Uma delas é a nuclear, não a
única". Segundo ele, o governo vai acompanhar o debate sobre energia
nuclear, levantado por vários países que dependem de usinas atômicas por causa
do acidente nuclear das unidades de Fukushima, no Japão.
"Vamos ver novas questões de
segurança, de custos de novas tecnologias, para ir tomando decisão, mas é pouco
provável abrirmos mão dessa tecnologia". Ele reiterou que Angra 3 será
construída e que o plano de erguer 4 novas usinas nucleares (menores que as
atuais) no País também deverá ser mantido.
"Construir é maneira de
aprender, de dominar tecnologia e formar gente especializada. Não seria muito
sábio abandonar todo nosso conhecimento, toda a tecnologia que já dominamos e
daqui a pouco, em 20 anos, descobrir que precisaremos dela e que a perdemos",
afirmou.
Sabrina Lorenzi, iG Rio
de Janeiro
Nenhum comentário:
Postar um comentário