sexta-feira, 29 de abril de 2011

O fim das novas hidrelétricas em 20 anos

Por trás da manutenção de projetos nucleares no Brasil está o esgotamento, em apenas 20 anos, de novas fontes da tradicional energia hidrelétrica. As hidrelétricas respondem hoje por 85% da geração elétrica, mas a limitação de rios e o rigor cada vez maior com a preservação ambiental forçam o País a buscar novas alternativas, de acordo com o presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim.
"Daqui a 20 anos não teremos mais como construir usinas hidrelétricas. Não poderemos usar todo o potencial, mas algum, por limitações ambientais, como já está ocorrendo", afirma ao iG o responsável pelo planejamento energético do País. Ele lembra que o governo mapeou outras usinas além de Belo Monte no rio Xingu, no Pará, mas voltou atrás por questões ambientais. Mais de 60% do potencial hidrelétrico está na região amazônica, "daí porque não poderemos aproveitar como gostaríamos".
Araguaia e Negro
Entre os rios que guardam potencial para abrigar hidrelétricas, segundo a EPE já mapeou, estão o Negro, em Manaus; Teles Pires, em Mato Grosso; Tapajós, no Pará; e o Araguaia, no Tocantins. "Vamos ter que conciliar necessidade de geração com preservaçao ambiental por isso o potencial será esgotado mais rapidamente"
A energia solar "entrará forte" na próxima década, segundo Tolmasquim. Até lá, segundo ele, o preço já estará bem mais viável e acessível ao consumidor brasileiro. Atualmente, a energia solar custa até cinco vezes mais que a eletricidade gerada por hidrelétricas. Cada MW/hora gerado a partir do sol custa entre R$ 450 e R$ 500, dependendo da tecnologia. A hidrelétrica não passa de R$ 100, cada MW/hora, enquanto o preço da eólica e da energia térmica é da ordem de R$ 140 e a nuclear, R$ 150. A energia térmica varia muito de preço, mas está na faixa da eólica.
Energia da biomassa e gerada por ventos também ganharão espaço no longo prazo, mas precisam de reforços de outras fontes, explica Tolmasquim. "Eólica não dá para substituir mas sim complementar porque só tem vento em determinadas épocas do ano e a biomassa depende também dos períodos de safra da cana-de-açúcar".
Nuclear como alternativa
"O País vai chegar num momento em que precisará de outras alternativas. Uma delas é a nuclear, não a única". Segundo ele, o governo vai acompanhar o debate sobre energia nuclear, levantado por vários países que dependem de usinas atômicas por causa do acidente nuclear das unidades de Fukushima, no Japão.
"Vamos ver novas questões de segurança, de custos de novas tecnologias, para ir tomando decisão, mas é pouco provável abrirmos mão dessa tecnologia". Ele reiterou que Angra 3 será construída e que o plano de erguer 4 novas usinas nucleares (menores que as atuais) no País também deverá ser mantido.
"Construir é maneira de aprender, de dominar tecnologia e formar gente especializada. Não seria muito sábio abandonar todo nosso conhecimento, toda a tecnologia que já dominamos e daqui a pouco, em 20 anos, descobrir que precisaremos dela e que a perdemos", afirmou.
Sabrina Lorenzi, iG Rio de Janeiro 

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Rios que alimentam o Pantanal podem ganhar 62 novas hidrelétricas

Esse é o número de projetos em construção ou estudo. Quase todas são pequenas centrais que produzem pouca energia.
Queimadas, exploração agropecuária desordenada, pesca predatória - essas ameaças ao ecossistema do Pantanal são conhecidas. Hoje, no entanto, ambientalistas apontam para um problema novo: a construção de hidrelétricas na região.
As usinas tiram proveito da queda natural entre o Planalto Central do Brasil e a planície onde fica o Pantanal. Hoje já existem 37 barragens em rios que alimentam a região e mais 62 hidrelétricas estão em construção ou em estudos. Quase todas são pequenas centrais que produzem pouca energia.
O pesquisador Paulo Petry, de uma entidade internacional de proteção do meio ambiente, diz que as usinas alteram o regime anual de cheias e secas que é responsável pela biodiversidade do Pantanal. Ele compara os barramentos a coágulos na circulação sanguínea de uma pessoa.
Pesca afetada
O município de Barão do Melgaço já foi um dos maiores produtores de peixe de água doce do Pantanal. Os pescadores das margens do Rio Cuiabá tiravam os pintados, os pacus, que eram vendidos em vários estados do brasil. Já não é assim. Muita coisa mudou por aqui.
Os pescadores são unânimes: a construção de uma barragem rio acima provocou uma queda drástica na quantidade de peixes.
Eles não estão conseguindo mais chegar aonde eles chegavam antes e a água não tem mais as mesmas características quando eles sobem os rios. isso dificulta o processo de reprodução deles.
As secretarias de Meio Ambiente de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, responsáveis pela aprovação de quase todas as usinas da região, negam a existência de um grande impacto ambiental. E não pretendem barrar o plano de expansão das hidrelétricas.
“Nós precisamos de estudos cientificos, de algo concreto a fim de que possamos mudar procedimento, mudar os nossos roteiros e acompanhar como esta se desenvolvendo toda utilizaçao desta regiao do pantanal”, diz o secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Alexander Maia.
“Até o momento, não existe nenhum estudo que indique enfim alguma coisa de alto risco, ou coisa que o valha”, afirma o secretário de Meio Ambiente de Mato grossso do Sul, Carlos Alberto Said Menezes.
Cachoeira
As usinas também são acusadas de destruir belezas naturais. A cachoeira Sumidouro do Rio Correntes já foi a maior atração turística da cidade de Sonora. Mas a barragem Ponte de Pedra desviou 70% do volume de água para as comportas. Com apenas 30%, o lugar ainda é bonito, mas perdeu a antiga força natural que maravilhava os turistas que vinham de longe para conhecer este lugar.
“Foi discutido na época do projeto, todos sabiam que ia perder essa beleza natural, infelizmente é o preço que temos que pagar. Você nao consegue gerar energia eletrica se não aproveitar essa queda natural que existe”, diz o gerente de Meio Ambiente da usina, José Lourival Magri.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Para Brasil, exigências da OEA sobre Belo Monte são precipitadas e injustificáveis

 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Senadores visitam obras de usinas paralisadas em Rondônia

Comitiva analisa condições trabalhistas e ambientais em canteiros de obras. Após visitas, relatório será produzido por comissão do Senado.

Nathália Duarte Do G1, em São Paulo
 
Localização da Usina de Jirau (Foto: Editoria de Arte/G1)

Senadores da Comissão de Meio Ambiente, Defesa do Consumidor e Fiscalização e Controle visitam, desde domingo (3), os canteiros de obras das usinas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, em Rondônia. No domingo, a comitiva sobrevoou as obras da usina de Santo Antônio e visitou alojamentos do local.
"Fizemos uma visita ao canteiro de Santo Antônio, e nos reunimos com representantes dos trabalhadores de ambas as usinas, do sindicato da categoria, do governo e da Justiça do Trabalho", afirma ao G1 o presidente da comissão, senador Rodrigo Rollemberg (PSB/DF).

Para esta segunda-feira (4), estão previstas uma visita à usina de Jirau e novas reuniões com autoridades e trabalhadores. Durante o período em Rondônia, os senadores devem avaliar as condições trabalhistas das usinas, que levaram a protestos e atos de vandalismo em março, e devem também averiguar a situação ambiental nos canteiros de obras.

"A nossa ideia é, nos próximos dias, produzir um relatório com as preocupações observadas durante a visita. Esse relatório será encaminhado a instituições que tenham relação com a situação das usinas e que tenham interesse no relatório", diz Rollemberg.

No primeiro dia de visitas, algumas preocupações já puderam ser observadas pelos senadores, e estarão apontadas no relatório. "Notamos a necessidade da criação de novas varas trabalhistas na região, porque houve um aumento significativo na demanda por atendimento trabalhista. Outra preocupação é com a prevenção à redução do movimento no comércio local  com o fim das obras, e o impacto que isso irá causar na economia de Rondônia", afirma o senador.
 
Sobre as condições nos alojamentos na usina de Santo Antônio, Rollemberg afirma que são "razoáveis". "A situação nas duas obras é muito diferente. Em Santo Antônio, a maior parte dos trabalhadores é de Rondônia, e muitos residem em Porto Velho. Já em Jirau, 90% dos operários são de outros estados e as condições de trabalho, pelo relato dos sindicalistas, são muito piores.”

Integram a comitiva o presidente da Comissão,
  • Rodrigo Rollemberg (PSB/DF)
  • Ivo Cassol (PP/RO)
  • Blairo Maggi (PR/MT)
  • Valdir Raup (PMDB/RO)
  • Jorge Viana (PT/AC)
  • Acir Gurgacz (PDT/RO).
 Situação nas usinas
As obras na Usina Hidrelétrica de Jirau foram suspensas após atos de vandalismo que destruíram parte das instalações. A confusão começou no dia 15 de março, quando ônibus foram incendiados por operários. Os alojamentos e a área de lazer foram depredados. O tumulto teria começado após uma briga entre dois operários.

A construtora Camargo Corrêa informou que as obras permanecem paradas. Os operários que trabalhavam no local foram enviados para casa. Em conjunto com a empresa, a Justiça do Trabalho decidiu, na semana passada, que as obras sejam retomadas a partir de 11 de abril.

As obras na usina de Santo Antônio, paralisadas por medida de segurança em 18 de março, dias depois dos protestos em Jirau, ainda não foram totalmente retomadas. De acordo com o Consórcio Construtor de Santo Antônio, equipes estão voltando gradativamente ao trabalho, nesta segunda-feira.

A Justiça do Trabalho de Rondônia determinou, em 30 de março, a aplicação de multas ao Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil do Estado de Rondônia (Sticcero) no valor de R$ 200 mil para cada dia de greve dos operários na usina de Santo Antônio. Segundo a assessoria de imprensa da Justiça do Trabalho, a medida começou a valer em 31 de março.

domingo, 3 de abril de 2011

70% das obras para reduzir impactos de Belo Monte ainda não começaram

 

Norte Energia, formado por estatais e construtoras, venceu leilão há 1 ano. Das 67 primeiras obras socioambientais previstas, 44 ainda não começaram.


Mariana Oliveira Do G1, em Brasília
Casa de palafita na periferia de Altamira; foto foi tirada em março do ano passado, durante visita do G1 à região (Foto: Mariana Oliveira / G1)
Casa de palafita na periferia de Altamira em imagem de março do ano passado (Foto: Mariana Oliveira / G1)

Praticamente um ano após o leilão que definiu o consórcio Norte Energia como responsável pela construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, no Pará, quase 70% das obras de ampliação da infraestrutura previstas para redução dos impactos socioambientais na região ainda não tiveram início, mostram dados do relatório de execução de obras do consórcio.

A demora para instalação de novas escolas e postos de saúde, que representam a maioria das obras, preocupa lideranças locais porque a população vem crescendo desde o leilão, em 20 de abril do ano passado. A expectativa é que a construção da hidrelétrica atraia 100 mil pessoas para Altamira, sede administrativa da obra, o que fará dobrar a população local.

Conforme os dados do consórcio, atualizados em 27 de março último, das 67 obras chamadas de "emergenciais" e previstas para as cidades de Altamira, Anapu e Vitória do Xingu, que abrigarão a hidrelétrica, 44 ainda não saíram do papel. Em alguns casos, foi realizada reforma, mas a ampliação ainda não começou.

Os principais motivos descritos pelo consórcio para as obras ainda não terem se iniciado estão a falta de aprovação de projetos e liberação de terrenos por parte de prefeituras, além da indefinição sobre quem fará o projeto ou a construção.

No começo de março tiveram início as obras de acesso ao local onde será construída a usina pela Norte Energia, consórcio de empresas que reúne estatais e construtoras. A licença parcial de instalação obtida pelo consórcio permite ainda a construção de alojamentos e espaços administrativos.

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Nelson Hübner, afirmou, de acordo com a Agência Brasil, que a licença de instalação que permitirá o início das obras da hidrelétrica deve ser concedida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) ainda em abril.

A cidade de Altamira, que será a mais impactada com a instalação da usina, tem 19 obras previstas, a maioria de ampliação e construção de escolas e postos de saúde.

No entanto, somente uma obra de ampliação da infraestrutura teve início - a construção de um posto de saúde. Algumas escolas foram reformadas, mas a ampliação aguarda, conforme relatório do consórcio, aprovação da prefeitura para início do projeto.

Vitória do Xingu tem 40 obras previstas, muitas de criação de rede de água e esgoto. Delas, só 15 saíram do papel. As demais aguardam projetos das prefeituras ou definição de quem fará a obra. A cidade de Anapu tem a melhor situação: das oito obras previstas, apenas uma não começou.

Ao conceder a licença ambiental que permitiu o leilão da hidrelétrica, o Ibama exigiu que o consórcio vencedor cumprisse uma série de condicionantes para reduzir os impactos socioambientais com a instalação da usina. Essas obras emergenciais previstas para o entorno da hidrelétrica estão entre as exigências do Ibama.

O G1 procurou o consórcio para obter informações sobre a execução das obras emergenciais, mas não tinha obtido resposta até a noite da última sexta (1).

Em nota no blog criado para fornecer informações sobre a construção da usina, a Norte Energia diz que "estão em ritmo acelerado as obras referentes às condicionantes socioambientais".

"Com a chegada de Belo Monte, a população poderá contar com mudanças na infraestrutura dos estabelecimentos de ensino e de Saúde, além de desfrutar de mais acesso e qualidade nos serviços prestados à comunidade, beneficiando não apenas os três municípios que receberão as obras, mas também os municípios vizinhos", diz a nota, datada de quinta-feira (31).
Rio Xingu, no Pará, onde será construída hidrelétrica de Belo Monte (Foto: Mariana Oliveira / G1)
Rio Xingu, no Pará, onde será construída hidrelétrica de Belo Monte; foto foi tirada em março de 2010 (Foto: Mariana Oliveira / G1)

 
Políticas públicas

Prefeitos e empresários locais, que creem em desenvolvimento, e movimentos sociais e Ministério Público, que acreditam que um trecho do rio vai secar e afetar a população indígena, se dizem preocupados com o aumento populacional, que demanda a ampliação dos equipamentos públicos.

A prefeita de Altamira, Odileida Sampaio, diz que a prefeitura tem colaborado com o consórcio.
"Está atrasado e muito o cronograma das obras. Estamos cobrando direto. Temos projeto, temos terreno. Criamos uma secretaria específica para tratar as questões da barragem. O emergencial não está sendo feito e isso nos preocupa. Eles têm ajudado na questão do trânsito, que tem se complicado em Altamira, mas em saúde e educação, está bem devagar."

De acordo com o coordenador do Fórum Regional de Desenvolvimento Econômico e Socioambiental da Transamazônica e Xingu, Vilmar Soares, que reúne empresários locais que apoiam o empreendimento, há um grupo de acompanhamento em relação às obras emergenciais. "Já era para estar mais avançado, mas estão andando de forma muito lenta."

Na avaliação de Soares, o consórcio é o responsável pelas ações emergenciais e não pode criticar as prefeituras pela demora em entregar projetos ou ceder terrenos.

"As prefeituras realmente demoram, mas a Norte Energia tinha que cobrar. Independentemente de a cidade não ter terreno, o consórcio tem que fazer a escola, por exemplo. Também não podem alegar que a chuva prejudica, porque outras obras estão acontecendo na cidade. Só esse ano devem chegar mais de 10 mil pessoas a Altamira. Não se pode começar a obra da usina sem ter escolas e posto de saúde para atender essa população."

Ministério Público

Para o procurador da República no Pará Felício Pontes Júnior, um dos autores das diversas ações que tramitam contra Belo Monte na Justiça, o ritmo das obras é "muito lento". Ele diz que, até agora, só foram cumpridas 20% das condicionantes exigidas pelo Ibama.

"A Norte Energia ficou preocupada nesse tempo em obter a licença parcial de instalação (que saiu em janeiro) em vez de se preocupar em preparar a região para as pessoas que vão migrar para trabalhar. Muitas das poucas obras que começaram são somente de reformas, não está trazendo aumento da oferta do serviço público para a região", disse Pontes Júnior.

Para o procurador, que promete entrar com novo recurso judicial caso saia a licença para início da construção da usina antes do cumprimento total das condicionantes, Belo Monte pode viver situação parecida com o que ocorreu nas hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau, no Rio Madeira, nas quais os trabalhadores entraram em greve e fizeram protestos violentos devido às más condições de trabalho e moradia.

"Aqui não é Jirau, não é Rondônia. A questão fundiária é muito mais problemática. Os conflitos devem se repetir aqui em uma proporção cinco vezes maior. Somos campeões de trabalho escravo e de morte de trabalhadores no campo. E com essa obra sem os cuidados que devem ser tomados, justamente as obras de infraestrutura, pode ter certeza que estamos tratando da crônica de muitas mortes anunciadas", disse o procurador.

A usina

Belo Monte será a segunda maior usina hidrelétrica do Brasil, atrás apenas da binacional Itaipu, e custará pelo menos R$ 19 bilhões, segundo o governo federal. A usina está prevista para começar a operar em 2015.

Apesar de ter capacidade para gerar 11,2 mil MW de energia, Belo Monte não deve operar com essa potência. Segundo o governo, a potência máxima só pode ser obtida em tempo de cheia. Na seca, a geração pode ficar abaixo de mil MW. Para críticos da obra, o custo-benefício não compensa.