Por Jornal GGN
Até
há quatro décadas, Manaus era abastecida por energia termoelétrica, a partir do
petróleo. O aumento dos preços desta commodity, a partir de 1973, levou o
governo a optar pela construção de uma usina hidrelétrica capaz de suprir
Manaus e substituir as termoelétricas, de acordo com o Centro de Estudos e
Pesquisa Aplicada (Cepa), da Universidade de São Paulo (USP).
O local escolhido para a nova usina, chamada Balbina,
foi o Rio Uatumã, afluente na margem esquerda do rio Amazonas. Desde o início
desse projeto, muitos cientistas se posicionaram contra a obra, mostrando erros
de planejamento, mas foram ignorados pelo governo. Quando a usina entrou em
funcionamento parcial, em 1988, até mesmo o governo reconheceu que ela é uma
verdadeira tragédia.
Balbina é uma tragédia econômica, diz o Cepa, ois o
custo da energia que produz é altíssimo. Acontece que o rio Uatumã é pequeno e
tem pouca água, e por isso, a quantidade de energia consumiu muito dinheiro.
Muito mais do que continuar a usar as termoelétricas.
Balbina também é uma tragédia ecológica, pois destruiu
uma área enorme de floresta, destruindo milhões de árvores. Isso porque o rio
Uatumã está localizado em região de relevo quase plano, e, por isso, a represa
criada pela barragem inundou um espaço exagerado. Não foi só a floresta que se
perdeu, mas também muitas espécies animais que habitavam aquele meio
ambiente.
Finalmente, Balbina é uma tragédia social que
prejudicou os habitantes da região. Uma parte da sua enorme represa inundou
terras de caça e moradia dos índios. Além disso, os peixes desapareceram do
rio, no trecho abaixo da barragem, pois a decomposição dos vegetais afogados
pela represa tornou a água ácida e poluída. Os habitantes das margens do rio,
que usavam os peixes como fonte de alimentação, mudaram-se para outros lugares.
O exemplo de Balbina mostra que nem sempre uma usina hidrelétrica é uma boa
opção.
Por ocasião da construção da usina de Balbina, a
Eletronorte, empresa responsável pelo empreendimento, argumentou que a hidrelétrica
seria a salvação para a escassez de energia na região de Manaus e desencadeou
uma campanha publicitária contra os críticos da obra: “Quem é contra Balbina é
contra você”, dizia o anúncio da estatal, veiculado nas tevês de Manaus.
Contudo, segundo o professor Ruben Caixeta de Queiroz,
da Universidade Federal de Minas Gerais, quando a barragem foi fechada, em
1989, todos os alertas dos estudos críticos se confirmaram: em área de relevo
pouco acidentado, composta por densa floresta, formou-se um lago de 2.380
quilômetros quadrados para instalar uma potência de energia de apenas 250 MW,
com a geração real de apenas 120 MW. Para se ter uma ideia, enquanto a segunda
maior usina do mundo, Itaipu, precisou inundar uma área de 0,096 quilômetros
quadrados para produzir 1 MW, Balbina, para produzir a mesma coisa, submergiu
9,44 quilômetros quadrados.
Do ponto de vista ambiental o empreendimento produziu
um efeito deletério. A quase totalidade da madeira não foi retirada antes de se
formar o lago de Balbina, o que provocou a decomposição da matéria orgânica e a
liberação de um composto tóxico, o metilmercúrio, que contaminou os peixes.
Tudo isso fez com que o grau de mercúrio em Balbina fosse superior ao
encontrado nas áreas de garimpo do rio Tapajós. Além disso, o lago de Balbina é
responsável pela liberação de dióxido de carbono (CO2) e metano (CH4), gases do
efeito estufa.
Muito em função da péssima experiência de Balbina, há
muita resistência em relação à Usina de Belo Monte.
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