quarta-feira, 30 de março de 2011

Aneel altera cronograma para construção de hidrelétrica em Mato Grosso do Sul

Éser Cáceres

O cronograma de implantação da Pequena Central Hidrelétrica Indaiazinho, no município de Cassilândia, foi alterado pelo diretor-geral da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), Nelson José Hubner Moreira.

Com as mudanças, publicadas no Diário Oficial da União desta quarta-feira (30), o prazo de início da operação comercial das unidades geradoras passa a ser 1º de maio de 2012. Segundo a Aneel, a Indaiazinho, com 12.500 kW de potência instalada, terá o início da concretagem da casa de força, ou seja, o início do novo cronograma, realizado até 15 de abril deste ano. O novo cronograma para Hidrelétrica Indaiazinho:  
  • início da concretagem da casa de força: até 15 de abril de 2011;
  • início da montagem eletromecânica das unidades geradoras: até 15 de agosto de 2011;
  • desvio do rio: até 1º de novembro de 2011;
  • início das obras da subestação e linha de transmissão de interesse restrito: até 1º de dezembro de 2011;
  • obtenção da Licença de Operação - LO: até 1º de fevereiro de 2012;
  • início do enchimento do reservatório: até 1º de fevereiro de 2012;
  • conclusão da montagem eletromecânica das unidades geradoras: até 30 de março de 2012;
  • início da operação em teste das unidades geradoras: até 20 de abril de 2012; e
  • início da operação comercial das unidades geradoras: até 1º de maio de 2012

Fonte: Aneel

 

 

terça-feira, 29 de março de 2011

Meio ambiente e desenvolvimento


Há aproximadamente 30 anos, ainda sob a tutela de um governo militar, o Brasil dava um importante passo para a construção do Estado Democrático de Direito que se consolidaria anos mais tarde: era aprovada a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente (Lei 6938/81) que, entre outras coisas, instituiu entre nós o procedimento de avaliação de impacto ambiental de grandes obras e projetos. De lá para cá, o licenciamento se transformou no principal instrumento da política ambiental brasileira e um símbolo da nova democracia. Não só possibilita uma minuciosa análise das consequências que um projeto pode trazer, como abre a possibilidade de participação formal da sociedade civil no processo decisório por meio das audiências públicas. Sua institucionalização trouxe a esperança de que projetos mal feitos não seriam mais empurrados goela abaixo da sociedade, como foi o caso da hidrelétrica de Tucuruí, no Pará, ou da rodovia Transamazônica, mas simplesmente arquivados.
Mas eis que a história vem nos pregar peças. Em pleno século XXI, em meio ao mais longo período democrático da vida brasileira, com um governo popular no poder, ressurge das catacumbas do regime militar o fantasma da usina hidrelétrica de Belo Monte, a ser construída no rio Xingu, no Pará.Para quem não conhece, Belo Monte é o “remake” de um projeto de engenharia dos anos 1970, que previa a construção de seis grandes hidrelétricas ao longo do rio Xingu, um dos rios mais ricos em diversidade social e ambiental do mundo. O conjunto de barragens alagaria quase 20 mil km2 – equivalente ao tamanho do Estado de Sergipe – e, além de destruir o rio, desalojaria grande número de comunidades indígenas e ribeirinhas. A joia mais importante dessa coroa de barragens era Kararaô, que sozinha poderia gerar até 11 mil MW, uma enormidade de energia. Ocorre que os Kayapó, povo indígena que domina boa parte do médio e baixo curso do Xingu, e por isso mesmo os principais afetados pelo projeto, não gostaram dessa história. Auxiliados pelo nascente movimento socioambientalista brasileiro, promoveram em 1989 a primeira grande manifestação indígena contra o governo do período democrático. O Io Encontro dos Povos da Floresta, ocorrido em Altamira (PA), teve grande repercussão mundial, o que fez com que os financiadores internacionais revissem sua posição e o projeto morresse, pois o país não tinha condição, na época, de custear sozinho essa aventura.
Kararaô ressurgiria em 2003 com novo nome e nova roupagem. Agora Belo Monte, a hidrelétrica não alagaria tanta área e, em teoria, não viria acompanhada de outras cinco barragens. A mágica se deveu a mudanças no projeto de engenharia e de estratégia política. Sob o aspecto técnico trocou-se uma grande barragem por duas menores, sendo que uma delas tem a função de desviar o rio Xingu de seu curso natural, empurrando-o para um grande canal artificial que o devolverá ao seu leito mais de 100 km depois. Com isso, aproveita-se um desnível geológico para gerar energia. Assim, o lago que antes teria mais de 1.200 km2 passou a ter pouco menos de 600 km2, ainda assim uma área maior que a do município de Porto Alegre.
Essa mudança de projeto decorreu da percepção dos dirigentes da Eletrobrás de que a sociedade já não toleraria mais casos como o da hidrelétrica de Balbina, no Amazonas, nos quais grandes áreas de floresta tropical são inundadas e milhares de pessoas são imediatamente desalojadas. Por essa razão, não só alteraram o arranjo da obra, como fizeram aprovar no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) uma resolução que aponta Belo Monte como o único aproveitamento hidrelétrico a ser realizado no rio Xingu. Ou seja, já não existiriam as demais hidrelétricas originalmente planejadas.
Olhando assim, parece uma grande vitória da sociedade. Afinal, o projeto foi remodelado para gerar a mesma quantidade de energia com muito menos impacto. E as demais hidrelétricas não serão construídas, tudo em nome do respeito à biodiversidade e às populações indígenas que vivem à beira do Xingu. É verdade que Belo Monte inundará metade da área originalmente planejada, mas é também verdade que isso se dará à custa de mais de 100 km de rio que viverá uma seca eterna, pois mais de 80% da água que passa por lá será desviada para gerar energia. Nesse trecho seco (equivalente à distância entre São Paulo e Campinas) estão localizadas duas comunidades indígenas (Arara da Volta Grande e Paquiçamba) e várias comunidades ribeirinhas, todas diretamente dependentes do rio para se alimentar, e gerar alguma renda, sobretudo com a pesca. Nesse mesmo trecho há uma grande diversidade de vida aquática, incluindo mais de uma dezena de espécies de peixes endêmicas, que só existem nessa área.
Impactos socioambientais
Por incrível que pareça, as pessoas e os ambientes existentes nessa região, chamada de Volta Grande, não são considerados pelos estudos ambientais como diretamente afetados pela obra. Impactados são apenas os que ficarão embaixo d’agua. Os que ficarão sem água nada sofrerão, segundo os empreendedores, pois a vida aquática pode sobreviver perfeitamente com apenas 20% da água que sempre teve. Porém, parecer assinado pela equipe técnica do Instituto Brasileiro dos Recursos Renováveis e do Meio Ambiente (Ibama), órgão responsável pelo licenciamento, indica que os estudos realizados não apresentam “informações que concluam acerca da manutenção da biodiversidade, navegabilidade e condições de vida das populações do TVR (trecho de vazão reduzida)”. Em outras palavras, nada garante que essas pessoas terão condições mínimas de sobrevivência após o fechamento do rio.
Mas não é só. Mesmo alagando uma área menor, a usina ainda vai alcançar parte da cidade de Altamira, sobretudo os bairros mais pobres. Com isso, pelo menos 20 mil pessoas deverão ser deslocadas, número que pode aumentar com uma contagem mais acurada. Some-se a isso a chegada de mais de 100 mil pessoas a uma região com serviços públicos precários e repleta de conflitos fundiários, e pode-se imaginar o impacto sobre as populações locais.
Ocorre que os problemas de Belo Monte não são apenas ambientais, mas também econômicos. As estimativas mais realistas avaliam que a obra custará em torno de R$ 30 bilhões, e o próprio BNDES, principal financiador da obra, admite que serão pelo menos R$ 25,9 bilhões. Isso porque, além das ações necessárias para tentar mitigar os problemas socioambientais criados, será necessário mobilizar uma megainfraestrutura numa região razoavelmente remota, movimentar mais terra do que o que foi necessário para construir o canal do Panamá e instalar turbinas suficientes para gerar 11 mil MW de energia.
O que poucos sabem é que durante boa parte do ano (entre 6 e 8 meses) a maioria das turbinas instaladas ficaria ociosa. Ou seja, não geraria energia. Segundo cálculos de especialistas do setor, a potência máxima assegurada seria de apenas 1.172 MW, ou quase dez vezes menos que a potência instalada e bem abaixo do que vem sendo assumido pelo empreendedor. Isso porque o Xingu, como quase todos os rios amazônicos, tem uma enorme variação de vazão ao longo do ano, diminuindo drasticamente de volume nos meses de seca, algo que só vem sendo acentuado com o acelerado desmatamento de suas cabeceiras. Somando-se a energia gerada em meses de seca e de cheia, a potência média seria de 4.571 MW.
Alguém poderia perguntar: mas essa flutuação não acontece com todas as hidrelétricas, já que quase todos os rios têm épocas de cheia e vazante? Não nessa magnitude. Boa parte das hidrelétricas acumula água durante a época de chuvas para utilizá-la na época de seca, de forma que a energia firme, ou seja, aquilo que é efetivamente produzido durante todos os meses do ano, é proporcionalmente maior. Belo Monte, porém, não terá reservatório de acumulação, exatamente por alagar uma área menor.
Enquanto isso, o Estado de Direito submerge
Estudos elaborados em 2006 por um grupo de pesquisadores ligados ao Instituto de Tecnologia da Aeronáutica (ITA)1, usando uma abordagem econômico-ambiental e tendo como base custos de construção bastante inferiores aos atuais, indicam que para essa energia firme a obra é economicamente inviável. Ou seja: não vale a pena gastar tanto dinheiro para ter tão pouca energia assegurada. Mas fazem um alerta: se for construída posteriormente outra usina rio acima, que guardaria água para Belo Monte, ambas se tornariam economicamente viáveis. Isso sem levar em consideração os custos socioambientais, claro, que afinal sempre são externalizados.
Essa realidade mostra o cinismo da decisão do CNPE, colegiado no qual a vaga da sociedade civil jamais foi preenchida. Belo Monte jamais será uma estrela solitária no rio Xingu. Sua construção precipitará, de forma iniludível, a instalação de outras barragens rio acima. E essas, para se justificarem, inevitavelmente terão que alagar extensas áreas, bem no coração de um dos maiores corredores de áreas protegidas do mundo.
Assim mesmo, poucos foram os investidores privados que se arriscaram a concorrer no leilão de concessão da obra, pois, ciosos que são com seus recursos, não podem esperar mais 15 ou 20 anos para que outra hidrelétrica seja construída e o investimento passe a dar retorno. Por essa razão, os sócios majoritários de Belo Monte são todos empresas públicas (do grupo Eletrobrás) e fundos de pensão de empresas estatais (sobretudo do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal), fartamente regados a financiamento público do BNDES. Detalhe: uma Medida Provisória aprovada no ano passado autoriza o Tesouro a socorrer o banco caso receba o calote desse empréstimo! Será uma festa para as empreiteiras de sempre, que mais uma vez surfarão no capitalismo à brasileira, no qual o risco é público e o lucro, privado.
O caso Belo Monte está se tornando emblemático não só por seu histórico ou por suas consequências socioambientais e econômicas. Ele também vem demonstrando, com incrível crueza, as fragilidades de nosso Estado de Direito, deixando feridas que provavelmente levarão muito tempo para fechar. Ao longo do processo de licenciamento, dois diretores técnicos e um presidente do Ibama pediram demissão, em momentos diferentes, alegando coerção por parte dos andares de cima do Governo Federal para que a licença saísse o quanto antes e de qualquer forma. A licença prévia, concedida em fevereiro de 2010, foi assinada pelo presidente do órgão ambiental, mesmo havendo um parecer de sua equipe técnica, emitido dois dias antes, que afirmava não haver “elementos suficientes para atestar a viabilidade ambiental do empreendimento”.
Na Fundação Nacional do Índio (Funai), chamada a se manifestar sobre o que aconteceria com as populações indígenas, não foi diferente. Após uma equipe técnica emitir um parecer de mais de cem páginas apontando grandes lacunas nos estudos e um alto grau de incerteza com relação ao destino dos índios, sobretudo aqueles que vivem em Volta Grande, um presidente interino assinou uma manifestação de uma página dizendo que estava tudo certo. Pior. Passou a afirmar, orientado pela Advocacia Geral da União, que as populações indígenas não serão afetadas, já que nenhuma de suas áreas será alagada. Assim, não caberia a exigência constitucional de realização de consulta prévia com os povos impactados, o que poderia tomar mais tempo.
Arbitrariedade administrativa documentada
Nunca antes na história deste país se viu um caso de arbitrariedade administrativa tão bem documentado. Técnicos competentes e compromissados, contratados durante a fase de reestruturação do setor público, promovida pelo governo Lula, colocaram seus empregos em risco assinando pareceres contrários à liberação da obra. Mas não só seus chefes fingiram que não leram como, infelizmente, o Judiciário também o fez.
Pouco menos de um mês antes da realização do leilão para a concessão da obra, o Ministério Público Federal ingressou com duas ações civis públicas, que se somaram a outras quatro já em curso, demonstrando a ilegalidade da licença concedida. Pedia o cancelamento do certame, já que para ele ocorrer era necessário o atestado de viabilidade ambiental do empreendimento. E, nesse caso, a menos que se considerasse que os presidentes dos órgãos envolvidos são mais experts que seus próprios técnicos, ele não existiria.
Dias antes do leilão, o juiz federal de Altamira emitiu duas decisões irretocáveis, com várias laudas demonstrando, ponto por ponto, as contradições entre os pareceres técnicos e as decisões políticas. Anulou a licença, afinal, decisões arbitrárias são contra a lei. Só que essas liminares subsistiram por poucas horas. Com base numa lei que lhe permite suspender os efeitos de liminares caso as julgue ameaçadoras da “ordem pública”, sem que precise apontar qualquer equívoco jurídico do juiz de primeiro grau, o presidente do TRF 1a Região derrubou ambas as decisões alegando, simplesmente, que a obra é importante. Corrigir o desmando administrativo de um órgão acossado politicamente pelas altas esferas do poder não lhe pareceu importante. Resguardar os direitos de populações indígenas e ribeirinhas invisibilizadas por uma mentira oficial, menos ainda.
Com o Judiciário fora do jogo, o empreendedor entendeu que o céu é o limite. Passou a pressionar o Ibama para que liberasse rápido a licença de instalação para que a obra pudesse começar. Só que para obter o documento teria de cumprir uma série de condições, várias delas complexas, como a retirada de grileiros de algumas terras indígenas ou a instalação de uma infraestrutura de saúde, educação e segurança nas cidades que receberão as hordas de migrantes. Isso leva tempo e custa caro. Por isso, seguindo o exemplo das usinas do rio Madeira, o empreendedor pleiteou a emissão de uma “licença parcial”, que não existe na legislação ambiental, mas que permite ir adiantando parte da obra – a instalação dos canteiros – enquanto “se vai cumprindo” as condicionantes.
Em janeiro de 2011, a licença de instalação parcial foi emitida sem que nem mesmo as poucas condicionantes eleitas pelo Ibama como indispensáveis de ser cumpridas antes de começar qualquer obra tivessem de fato sido realizadas. Enquanto estas linhas foram escritas, se aguardava uma decisão de um juiz federal de Belém, mas com a certeza de que se ela viesse seria rapidamente derrubada no tribunal.
Portanto, o caso Belo Monte vem se mostrando um momento de inflexão em nosso regime democrático. Em prol de uma obra de viabilidade, no mínimo, duvidosa, estamos assistindo à destruição do sistema de licenciamento ambiental com a total conivência de um Judiciário permeado por interesses políticos e dominado por um discurso desenvolvimentista. Há 30 anos falaríamos que era culpa dos militares. Hoje, infelizmente, não temos desculpas
Biviany Rojas, Advogada e cientista política, mestre em Ciências Sociais pelo CEPPAC/UnB e assessora do Programa de Política e Direito do Instituto Socioambiental.
Raul Silva Telles do Valle, Advogado, mestre em Direito Econômico pela USP e coordenador adjunto do Programa de Política e Direito do Instituto Socioambient

quinta-feira, 24 de março de 2011

Trabalhadores incendeiam alojamento em obras de hidrelétrica em Água Clara - A OBRA É DA ELETROSUL

24/03/2011

Marta Ferreira do Campograndenews

Trabalhadores que atuam na construção da Usina Hidrelética São Domingos, no município de Água Clara, incendiaram os alojamentos e veículos nesta tarde. A obra é da Eletrosul e, segundo foi anunciado quando começou, empregaria 400 pessoas.

Equipes da Polícia Militar da cidade, de Ribas do Rio Pardo e de Três Lagoas foram enviadas ao local, que fica a 80 quilômetros da cidade. O clima é tenso no local. Ambulâncias foram enviadas ao local, mas não há informações de feridos.

No telefone da empresa que contratou os trabalhadores, ninguém atendeu as ligações.

É a segunda vez esta semana em poucos dias que são registrados problemas no local.

Na segunda-feira, os trabalhadores denunciaram que não receberam o salário e, ao pedir demissão, tiveram o acerto negado e a Carteira de Trabalho retida pelo empregador. Dessa maneira, não conseguem ir embora do município, distante 198 quilômetros de Campo Grande.

Na ocasião, um dos encarregados contratados, que pediu para ter o nome preservado, veio do Paraná para trabalhar na construção da barragem e apontou que a empresa estava pagando muito abaixo do mercado e ainda não pagava em dia.

Há trabalhadores de vários Estados do Brasil, como Piauí, Pernambuco e Maranhão.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Os haitianos de Jirau

Grupo de 30 pessoas começaria nesta semana a trabalhar na hidrelétrica, que teve as obras interrompidas após quebra-quebra.

Patrick Cruz, enviado especial a Porto Velho
21/03/2011 05:40

Samuel Dorvilus gosta é de tomar sopa de manhã, como é hábito em seu Haiti natal. Jean Pierre Vivendieu enfatiza a eloquência de seu português ainda titubeante com um gestual à moda dos rappers: mão para cima no início da frase, mão para baixo no fim dela. Chelot Saint Jean, pai de cinco pequenos, é pintor, cozinheiro, ferreiro e um feliz dono de dicionário, do qual é difícil vê-lo se livrar. Eles são os haitianos de Jirau.

Samuel, Jean Pierre e Chelot estão entre os mais de uma centena de haitianos que se aboletaram em Porto Velho há três semanas para tentar um emprego na terra de oportunidades em que Rondônia se transformou. Cerca de 70 integrantes do grupo original já acharam trabalho. Os 30 remanescentes estão com exame admissional marcado para esta segunda-feira em uma das empresas que presta serviços ao consórcio que constrói a usina hidrelétrica. No entanto, com a interrupção dos trabalhos na hidrelétrica na última semana, motivada por um quebra-quebra no canteiro de obras, eles até podem passar no exame, mas terão que esperar mais um pouco para colocar a mão na massa.

Eles não viajaram juntos, mas a trajetória foi a mesma. Do Haiti eles partiram para o Panamá, em viagem de avião. Também de avião foi o deslocamento para o Panamá, seguido por outro voo, para o Equador. A partir da chegada à América do Sul, as viagens foram feitas todas de ônibus: do Equador ao Peru e do Peru ao Acre, a primeira escala em solo brasileiro.

Pouco mais de um ano depois do terremoto que arrasou parte do Haiti, o grupo resolveu dar ouvidos aos soldados brasileiros que fazem parte da força da ONU no país – e eles relatavam uma onda de prosperidade em Rondônia. No Estado estão as obras das hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, ambas no Rio Madeira. São as duas maiores obras em andamento no Brasil atualmente.

“Teve gente que trabalhou por dois anos para juntar dinheiro e poder vir para cá”, diz o falante Jean Pierre Vivendieu, habilitado a trabalhar tanto como ajudante de pedreiro quanto como costureiro. “Pretendo ficar um tempo para trabalhar, mas claro que um dia quero voltar”, afirma. “Tenho uma noiva lá. Tenho que me casar algum dia, afinal”. Mas a reserva de dois anos não foi suficiente para muitos: faltou dinheiro entre o Equador e o Peru. De lá, Vivendieu e outros telefonaram para casa para que os familiares fizessem um depósito adicional de recursos. O deslocamento custou a cada um deles em torno de US$ 2 mil (ou R$ 3,3 mil).

A entrada de haitianos no Brasil já tem acendido a luz amarela das autoridades brasileiras - que, se tentam agilizar a burocracia de sua permanência no País, também não querem estimular a vinda de novas levas. Segundo relatos do grupo, há 136 haitianos em Porto Velho. Desses, 108 passaram por triagem da Secretaria Estadual de Assistência Social no Ginásio Cláudio Coutinho. Foi no ginásio que eles foram acomodados pelo governo local, que intermediou o contato com potenciais empregadores. Das 76 empresas que mandaram representantes para negociar a contratação dos haitianos, 14 admitiram ao menos um membro do grupo – do qual fizeram parte menos de dez mulheres, todas contratadas como cabeleireiras ou domésticas. Restaram os 30, que nesta semana começariam a atuar em Jirau.

Há no grupo carpinteiros, ajudantes de pedreiros e pedreiros, mas há também gente como Samuel Dorvilus, que ainda estranha que no Brasil não se sirva sopa de manhã. Professor de francês e espanhol no Haiti e designado como um dos líderes do grupo, ele deve desempenhar alguma função administrativa em seu futuro empregador. Dorvilus deixou para trás a esposa e o filho, Samuel Júnior, de um ano.

Francker Joseph e Detamar Evency estavam entre os 108 que ocuparam o Ginásio Cláudio Coutinho originalmente. Não estão mais porque conseguiram emprego em um bar da cidade. Evency diz, driblando a timidez, que gosta da onipresença de futebol e lutas na TV brasileira. Joseph celebra os braços abertos que tem encontrado. “As pessoas daqui gostam do Haiti e dos haitianos”, diz. Ele ainda sofre com a jornada de um profissional da noite, que não raro se estende até as três da manhã, e antevê seu retorno ao amado ofício de pedreiro.

“Eles são muito humildes e muito alegres”, diz a assistente social Elenilda Torres, que trabalha no Cláudio Coutinho com o grupo. E são também legalizados, afirma a secretária de Assistência Social de Rondônia, Cláudia Moura. Todos eles foram enquadrados na Lei 9474/97, a lei dos refugiados, segundo ela, e estão com a documentação em dia. O governo condiciona a contratação dos haitianos à oferta de moradia e alimentação. É assim que, aos poucos, eles têm deixado o ginásio.

O futuro empregador de Anel Casumat terá o reforço não apenas de um ajudante de pedreiro com habilidade na costura, mas também de um goleiro para o futebol de fim de semana dos funcionários. É nessa posição que Casumat gosta de atuar. O futuro empregador de Chelot Saint Jean, pai de cinco pequenos, pintor, cozinheiro e ferreiro, terá que saber que ele pretende dispensar os serviços do dicionário em pouco tempo.

sábado, 19 de março de 2011

‘Gatos’ contratam mão de obra para usina de Jirau

Não dá pra aceitar que uma obra que envolve bilhões, conviva com práticas tipo "semi-escravidão".
Operários se queixam das promessas não cumpridas pelos homens que apresentam o canteiro da usina como um Eldorado.

19 de março de 2011 18h 45

PORTO VELHO - As construtoras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) recorrem às mesmas práticas de recrutamento de trabalhadores dos tempos do "Brasil Grande", nos anos 70, quando o País viveu um surto de desenvolvimento econômico no período do regime militar (1964-1985).

As vagas dos canteiros de obras da usina hidrelétrica de Jirau, paralisadas depois de um quebra-quebra promovido pelos operários, foram preenchidas, nos últimos meses, por migrantes que receberam promessas de "gatos" para enfrentar mais de três dias em ônibus precários das cidades nordestinas até as margens do Rio Madeira.

A história de um dos "gatos", pagos para recrutar pessoal sem qualificação em sítios e povoados do sertão, ganhou status de lenda, tamanho o ódio que desperta nos que se aventuraram em busca do "Eldorado" de Rondônia. Os operários falam de um "Antônio Carlos", de boa conversa, que "engana direitinho o pessoal". Ninguém sabe o nome completo ou o endereço dele.

Os "Antônios" com sobrenome e demais dados de identificação são os que aparecem nas filas de reclamação. "Ele cumpriu o trato de garantir merenda na viagem, mas até agora não recebi os R$ 120 que prometeu quando a gente chegasse aqui", queixou-se o operário Antônio Raimundo Pinho da Silva, 48 anos, um dos que deixaram o alojamento da Jauru Engenharia, na madrugada de quinta-feira, após a revolta. O incêndio teria sido provocado por funcionários da Camargo Corrêa revoltados com o valor dos benefícios.

De Parnarama, a família do operário já acreditou ou teve de confiar em outros "gatos". O pai, tios e conterrâneos de Antônio Raimundo foram deslocados do Maranhão para as matas do Pará, nos anos 1970, para trabalhar nas obras da hidrelétrica de Tucuruí e da rodovia Transnordestina. Aos 18 anos, Antônio Raimundo era um dos milhares de maranhenses que atravessaram o rio Tocantins para se aventurar no garimpo de ouro de Serra Pelada. Ele não se lembra do nome do "gato" que o levou para uma frente de extração do garimpo, mas cita histórias de ordem e rigidez dentro da mina.

Longe do tempo em que ecoava a frase "a economia vai bem, mas o povo vai mal", nos anos do milagre econômico do governo Médici (1969-1974), época em que o salário real ficava bem longe dos números de aumento do Produto Interno Bruto (PIB), o País ainda enfrenta o desafio das relações de trabalho. O operário paraense Antônio César Souza da Silva, 34 anos, de Belém, reclama que o "gato", quando chegou para conversar com o pessoal num bairro da periferia da capital paraense, não disse que em Jirau havia seguranças dispostos a espancar quem entrasse alcoolizado no alojamento nem quem desrespeitasse filas no refeitório e banheiros.

"Os seguranças não sabiam conversar. Nos finais de semana, quando o pessoal passava um pouquinho da conta na bebida, eles tratavam os bêbados na pancada, como vagabundos", relata Antônio César. "Eu não sabia que a obra era uma panela difícil para sair", diz. Antônio afirma que, ainda em Belém, assinou "contrato de comprometimento" com o "gato" em que abriria mão de qualquer benefício se deixasse as obras de Jirau antes de três meses. "Se sai antes de 90 dias, a volta é por sua conta".

Com salários em média de R$ 1 mil, os operários tentam prolongar a permanência nos canteiros e esperar o cumprimento do prazo do contrato para deixarem Rondônia. "Se sair antes, não pega nem o seguro desemprego", reclama José Francisco Soares, 29, de Imperatriz.

No povoado de Jacy-Paraná, transformado do dia para a noite na maior "fofoca" do complexo do Jirau - reduto de jogos, bares e mulheres -, a maioria dos operários costuma ir nos finais de semana e os momentos de folga. Pelo acordo firmado ainda pelo "gato", eles têm direito à "embaixada", isto é, a uma visita de cinco dias à família, com transporte pago, a cada quatro meses de trabalho.

Muitos dos operários sonham em ir para os canteiros da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. É o caso do maranhense Rafael Mendes Pereira. "Aqui, em Rondônia, é um inferno. Pelo menos, em Belo Monte, a gente vai estar mais perto de casa", afirma. "Os encarregados no Jirau acham que só porque usam fardas amarelas podem agredir as pessoas."

Após Jirau, obras da usina de Santo Antônio são paralisadas

Jirau e Santo Antônio formam o complexo do Rio Madeira. Consórcio construtor interrompeu atividades após rebelião

Agência Estado 18/03/2011

As obras da usina de Santo Antônio, que junto com Jirau formam o complexo hidrelétrico do Rio Madeira (RO), foram paralisadas nesta sexta-feira. O consórcio responsável pela construção da usina tomou essa decisão por precaução, por conta dos conflitos que ocorreram nos últimos dias na hidrelétrica de Jirau. O consórcio construtor de Santo Antonio deve divulgar ainda hoje uma nota com mais informações.

O Tribunal Regional do Trabalho (TRT) em Rondônia vai instalar uma vara itinerante para ouvir os trabalhadores da hidrelétrica de Jirau. A instalação foi sugerida pelo presidente do Tribunal Superior do Trabalho (TST), ministro João Oreste Dalazen, que disse estar preocupado com a situação dos empregados e da construtora Camargo Corrêa, por conta dos conflitos.

Segundo o TST, a ideia é analisar as reivindicações dos trabalhadores. A Camargo Correa informou ontem que era "improcedente" a informação de que reivindicações trabalhistas teriam sido o motivo inicial dos incidentes. O Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Rondônia também divulgou uma nota em que afirmou que os conflitos não foram motivados por questões trabalhistas.

O Ministério da Justiça autorizou o emprego da Força Nacional de Segurança Pública "em caráter episódico e planejado" para a manutenção da segurança pública em Rondônia, depois do quebra-quebra ocorrido nos canteiros da obra da usina hidrelétrica de Jirau. A Força ficará no local por 30 dias, prorrogáveis se necessário.

Na última quinta-feira, depois de ouvir a construtora Camargo Corrêa e avaliar as informações do Ministério das Minas e Energia e dos relatórios da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), o governo decidiu mobilizar um contingente da Força Nacional e da Policia Federal para assumir o controle da situação. A construtora retirou para a capital, Porto Velho, seus 19 mil trabalhadores dos canteiros nas duas margens do Rio Madeira, paralisou tudo e não tem prazo para a retomada das obras.

O governo federal não tem dúvida de que os atos de vandalismo foram comandados por cerca de duas centenas de homens encapuzados. Eles incendiaram 45 ônibus e 15 blocos de alojamento, além dos refeitórios e de toda a área de lazer. No meio do tumulto, segundo informações levadas ao Planalto, eles chegaram a assaltar os caixas eletrônicos usados pelos trabalhadores para fazer saques de dinheiro no dia a dia do canteiro.

Nota do MAB sobre a revolta dos operários na Usina Hidrelétrica de Jirau, em Rondônia

Nota do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

Nesta semana acompanhamos a revolta dos operários na Usina Hidrelétrica de Jirau contra as empresas que controlam a barragem. Existem informações de que os mais de 15 mil operários da obra estão em situação de superexploração, com salários extremamente baixos, longas jornadas e péssimas condições de trabalho, que existe epidemia de doenças dentro da usina e não existe atendimento adequado de saúde, que o transporte dos operários é de péssima qualidade, sofrem com a falta de segurança e que mais de 4.500 operários estão ameaçados de demissão. Esta é a realidade da vida dos operários.

Esta situação tem como principal responsável os donos da usina de Jirau, o Consórcio formado pela transnacional francesa Suez, pela Camargo Corrêa e pela Eletrosul. As revoltas dos operários dentro das usinas tem sido cada vez mais frequentes e isso é fruto da brutal exploração que estas empresas transnacionais impõem sobre seus trabalhadores.

Há pouco tempo houve revolta na usina de Foz do Chapecó, também de propriedade da Camargo Corrêa, em 2010 houve a revolta dos operários da usina de Santo Antonio e agora temos acompanhado a revolta dos operários da usina de Jirau.

As empresas construtoras de Jirau são as mesmas que foram denunciadas em recente relatório de violação de Direitos Humanos, aprovado pelo Governo Federal, que constatou que existe um padrão de violação dos direitos humanos em barragens e de criminalização, sendo que 16 direitos têm sido sistematicamente violados na construção de barragens. Os atingidos por barragens e os operários tem sido as principais vítimas.

A empresa Suez, principal acionista de Jirau, é dona da Barragem de Cana Brava, em Goiás, e Camargo Corrêa é dona da usina de Foz do Chapecó, em Santa Catarina. Essas duas hidrelétricas também foram investigadas pela Comissão Especial de Direitos Humanos em que foi comprovada a violação. Estas empresas tem uma das piores práticas de tratamento com os atingidos e com seus operários.

Em junho de 2010, o MAB já havia alertado a sociedade que em Jirau havia indícios e denúncias, que circularam na imprensa local, de que as empresas donas da Usina de Jirau haviam contratado ex-coronéis do exército para fazer uma espécie de trabalho para os donos da usina de Jirau e não seria surpresa se estes indivíduos contratados pelas empresas promovessem ataques ou sabotagens contra os operários e atingidos, para jogar uns contra os outros e/ou criminalizar nossas organizações e sindicatos.

A revolta dos operários é reflexo desse autoritarismo e da ganância pela acumulação de riqueza através da exploração da natureza e dos trabalhadores. Prova desse autoritarismo e intransigência é que estas empresas se negam a dialogar com os atingidos pela usina e centenas de famílias terão seus direitos negados. As consequências vão muito além disso, pois nesta região se instalou os maiores índices de prostituição e violência.

Em 2011, O MAB completa 20 anos de luta e os atingidos comemoram a resistência nacional, mas também denunciam que estas empresas não tem compromisso com a população atingida e nem com seus operários. Recebem altas taxas de lucro que levam para seus países e o povo da região fica com os problemas sociais e ambientais.

O MAB vem a público exigir o fim da violação dos direitos humanos em barragens e esperamos que as reivindicações por melhores condições de trabalho e vida dos operários sejam atendidas.

Água e energia não são mercadorias!

Coordenação Nacional

Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB)

sexta-feira, 18 de março de 2011

Operários da usina de Santo Antônio param trabalho após conflito em Jirau

18/03/2011 12h03

15 mil operários da usina hidrelétrica ficam parados até domingo (20). Medida foi adotada por precaução, para evitar confronto, diz concessionária.

Glauco Araújo
Do G1, em São Paulo

Os operários da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, em Porto Velho, pararam o trabalho na manhã desta sexta-feira (18), segundo informações da Concessionária Santo Antônio Energia, responsável pela futura geração de energia da usina. Ainda de acordo com a empresa, a medida foi tomada em consenso com os funcionários para evitar confrontos na obra, assim como tem ocorrido no canteiro da usina de Jirau, desde terça-feira (15).

Segundo concessionária, cerca de 15 mil trabalhadores de Santo Antônio deixaram as atividades até domingo (20). Ao contrário do que ocorreu em Jirau, o clima nesta usina é pacífico e não houve confronto. A assessoria de imprensa da Polícia Militar disse que há efetivo da corporação e da Força Nacional de Segurança nas proximidades da usina de Santo Antônio para garantir a segurança das instalações e dos operários.

Cerca de 12 mil operários foram retirados do canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de Jirau, nesta quinta-feira, e transferidos para alojamentos em Porto Velho. Nesta sexta-feira (18), a preocupação da Polícia Militar é evitar novos tumultos e atos de vandalismo na capital, mas a situação é considerada tranquila.

Os operários estão distribuídos em um ginásio esportivo e dois clubes, segundo a assessoria de imprensa da PM. O policiamento foi reforçado próximo aos locais de concentração dos operários em Jirau, com carros de polícia que fazem rondas pela região. Policiais militares e homens da Força Nacional estão no local e fazem o levantamento de danos ao patrimônio, mas não há registro de novos protestos.

Na noite desta terça-feira, cerca de 45 ônibus e 15 carros administrativos foram queimados por operários, que também depredaram 30 instalações e 35 alojamentos da usina. Após uma trégua na quarta-feira (16), os manifestantes voltaram a atear fogo a ônibus, carros e alojamentos nesta quinta-feira.

Para dar apoio à Polícia Militar local e fortalecer a segurança nas obras da Usina Hidrelétrica de Jirau, uma tropa da Força Nacional foi enviada ao local.

Segundo o governo de Rondônia, o Ministério da Justiça confirmou o envio de 600 homens da tropa da Força Nacional. O Ministério da Justiça confirma o envio das tropas, que já estão no local, mas não especificou a quantidade do efetivo deslocado por considerar a informação estratégica e de segurança nacional.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Governo envia Força Nacional para conter violência em usina de Jirau

Segundo a PM de Rondônia, série de protestos começou na terça-feira.Cerca de 45 ônibus foram queimados e alojamentos foram depredados.

Glauco Araújo
Do G1, em São Paulo

Uma tropa da Força Nacional foi enviada para fortalecer a segurança nas obras da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Porto Velho, na tarde desta quinta-feira (17). Trabalhadores locais estão realizando protestos desde terça-feira (15), quando queimaram cerca de 45 ônibus e 15 carros administrativos, além destruir e danificar 30 instalações e 35 alojamentos.

Após uma trégua nesta quarta-feira (16), os manifestantes voltaram a atear fogo a ônibus, carros e alojamentos nesta quinta-feira. Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), os manifestantes interditaram o trecho do km 823 da rodovia BR-364, ateando fogo a pneus sobre uma das pistas. A PRF pede que os motoristas adiarem as viagens até a normalização do tráfego de veículos e a garantia de segurança no local. Houve registro de saques na cidade e invasão a uma agência bancária.

Segundo o governo de Rondônia, o Ministério da Justiça confirmou o envio de 600 homens da tropa da Força Nacional, sendo que 100 homens seguem de imediato a Jirau. Destes, 45 que já estavam em Porto Velho foram deslocados para a região de conflito. Outros 500 serão levados em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) e devem chegar na noite desta quinta-feira.

O Ministério da Justiça, em nota, confirmou o envio das tropas, mas não especificou a quantidade do efetivo deslocado por considerar a informação estratégica e de segurança nacional. O documento ainda informa que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, aceitou o pedido feito pelo governador de Rondônia, Confúcio Moura.

Operários voltam a atear fogo a ônibus e alojamentos de usina em ROOperários ateiam fogo a ônibus em RondôniaAinda de acordo com o governo de Rondônia, parte do efetivo, relacionado ao Exército, vai garantir a segurança dos paióis de explosivos, que existem no canteiro de obras. A Marinha vai fortalecer a segurança no Rio Madeira e, a Aeronáutica deverá enviar helicópteros para o monitoramento aéreo.

A assessoria de imprensa da Polícia Militar de Rondônia informou que o presídio federal de Porto Velho e canteiros de obra da usina, que funcionam no distrito de Jaci-Paraná e na Vila de Nova Mutum também serão protegidos pela Força Nacional.

A Secretaria de Segurança Pública mantém, desde quarta-feira, 160 policiais militares e 80 homens do Comando de Operações Especiais (COE), além de 36 bombeiros militares e oito policiais civis no local. Agentes da Polícia Federal (PF) e da Polícia Rodoviária Federal (PRF) também estão na região.

O superintendente do consórcio Energia Sustentável do Brasil, José Lúcio de Arruda, pediu ao governo de Rondônia alojamento para 12 mil operários da usina, já que parte das acomodações destinadas aos trabalhadores foram destruídas nas manifestações. O governo, entretanto, abriga 100 haitianos no ginásio de Esportes Cláudio Coutinho e não disponibilidade imediata de locais para alojamento. A alternativa seria a acomodação em escolas, o que provocaria a interrupção das aulas

terça-feira, 15 de março de 2011

Impactos indiretos de Belo Monte serão muito maiores que os diretos

Escrito por Rodolfo Salm
12-Mar-2011

O professor Luiz Pinguelli Rosa publicou na Folha de S. Paulo, no último dia 12 de fevereiro, um artigo defendendo a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Um de seus principais argumentos foi o preço oficial que a sociedade pagaria por sua energia: R$ 68/MWh, em comparação com o das novas termelétricas, de R$ 140/MWh.

Achei curioso o professor acreditar na manutenção dos R$ 68 e por outro lado citar tão genericamente a redução do fluxo no canal principal do rio. "A solução é garantir uma vazão mínima (pelo leito original do rio)", escreve.

De quanto seria essa tal vazão mínima? Ela garantiria a sobrevivência dos peixes e a navegabilidade do rio? É difícil acreditar, principalmente para quem conhece a região e sabe que durante boa parte do ano o Xingu já praticamente não corre. A água para mover as turbinas principais da barragem seria desviada do leito do Xingu por canais gigantescos. Quanto mais água passar pelo leito natural do rio, menos energia será gerada pela água desviada pelos canais. É evidente que o consórcio vai repassar essa conta ao consumidor.

O valor apontado ignora ainda uma série de custos ligados aos serviços ambientais que o rio Xingu preservado presta à sociedade, como a produção de peixes e a preservação da biodiversidade. O professor também observou que a área inundada de Belo Monte (516 km²) praticamente se restringiria àquela ocupada pelo rio em sua variação sazonal, como se isso justificasse o alagamento.

Ele parece desconhecer que estamos tratando de ecossistemas adaptados a um certo nível de alagamento em período curto do ano e que inevitavelmente se degradariam com o alagamento permanente (liberando o nefasto gás metano e fazendo com que as hidrelétricas da Amazônia contribuam tanto ou mais para o efeito estufa do que as termelétricas de potência equivalente, segundo apontam estudos científicos).

De toda forma, os impactos indiretos de Belo Monte seriam muito maiores que os diretos. A imigração prevista de dezenas de milhares de pessoas para a região já começou e já causa desmatamentos em uma escala sem precedentes. Tudo isto tem um custo, não considerado por Pinguelli.

Pensando nacionalmente, sabe-se que as florestas preservadas da bacia do Xingu contribuem em muito para o regime de chuvas do resto do país. É possível estimar economicamente o valor desta chuva, pois a devastação da floresta traria prejuízos financeiros calculáveis para a agricultura e para a indústria, que depende de água para produzir. Sem falar no abastecimento das nossas cidades.

Localmente, podemos enumerar os custos sociais causados pelo aumento da violência resultante do inchaço populacional repentino, pelas doenças causadas pelo enorme volume de água parada em uma região tropical e pela perda do apelo turístico, com o fim das corredeiras e das maravilhosas praias de areia branca.

São custos de Belo Monte que precisam ser considerados, o que não foi feito adequadamente, devido a terríveis pressões políticas, como registraram os próprios técnicos do Ibama, que não aprovaram o projeto. Mas que ainda podem ser evitados se a obra for cancelada. Essa luta está apenas começando.


Rodolfo Salm, PhD em Ciências Ambientais pela Universidade de East Anglia, é professor da UFPA (Universidade Federal do Pará) em Altamira, e faz parte do Painel de Especialistas para a Avaliação Independente dos Estudos de Impacto Ambiental de Belo Monte.

Artigo originalmente enviado para o jornal Folha de S. Paulo, que não se dispôs a publicar essa resposta de um professor atuante na principal instituição de pesquisa da localidade mais afetada pelo empreendimento da barragem de Belo Monte.

14 de Março - Dia internacional de luta contra as barragens

O MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens completa vinte anos.

No dia 14 de março de 1991, o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) foi fundado oficialmente, no 1º Encontro Nacional dos Atingidos por Barragens, realizado em Goiânia (GO). Portanto, hoje comemoramos 20 anos de organização para a defesa das populações atingidas e do meio ambiente, e por um novo modelo energético.

Nesta data de 14 de março, populações atingidas por barragens do mundo inteiro denunciam o modelo energético que tem causado graves conseqüências sociais, econômicas, culturais e ambientais, celebrando o Dia Internacional de Lutas Contra as Barragens, pelos rios, pela água e pela vida.

No Brasil, o MAB têm organizado muitas lutas em defesa dos direitos dos atingidos, da água e por um projeto energético popular. O fato do Movimento dos Atingidos por Barragens existir a 20 anos, lutando contra interesses tão poderosos no país, já é uma grande vitória política das populações atingidas.

Para celebrar este dia histórico, os atingidos pela Usina de Belo Monte estão organizando hoje uma grande pescaria no Rio Xingu, em Altamira (PA). Com isso, o MAB quer denunciar os impactos dessa obra na região e conscientizar a população sobre esta grande ameaça. Os peixes que forem pescados serão partilhados pelas comunidades carentes da região.

Em Rondônia, de 14 a 16 de março estará acontecendo o Encontro dos Atingidos pelas barragens de Santo Antônio, Jirau e Samuel. Na noite de hoje, eles farão o lançamento do relatório que apontou violações de direitos humanos em barragens no Brasil. Ficaram evidentes a relevância e magnitude dos impactos sociais negativos decorrentes do planejamento, implantação e operação de barragens", aponta o relatório aprovado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, em novembro de 2010.

Ainda nesta semana estará acontecendo o debate sobre Belo Monte pelo Comitê Mineiro do Fórum Social Mundial, em Belo Horizonte (MG), e o debate sobre a privatização da água em Erexim (RS). Além disso, um grupo de representantes dos atingidos por barragens está em Brasília (DF) discutindo a regulamentação do Decreto Presidencial no 7.342, de 26 de outubro de 2010, que cria regras para cadastramento sócio econômico dos atingidos por barragens, e levando ao conhecimento das autoridades federais as reivindicações dos atingidos por barragens de todo o Brasil.

Como comemoração dos nossos 20 anos de lutas e conquistas, estamos organizando o 1º Encontro Nacional das Mulheres Atingidas por Barragens, que acontecerá em Brasília no início de abril. Cerca de 600 atingidas por barragens estarão denunciando a violação sobre os direitos das mulheres e também avanço das grandes empresas nacionais e estrangeiras no controle das riquezas naturais do Brasil. A água, a energia, os minerais, as sementes, os alimentos e o petróleo brasileiro são cobiçados pelas multinacionais que só querem lucrar explorando o povo e destruindo a natureza em nosso país.

Para o MAB é necessário construir um novo modelo de desenvolvimento, centrado na busca de condições dignas de vida para a classe trabalhadora. Cada vez mais nosso compromisso é de nos organizarmos e de nos inserirmos nas lutas contra as transnacionais, contra a privatização, contra as altas tarifas da luz, da água e do transporte, pelos direitos dos trabalhadores, na defesa dos rios, da água e da vida.

Água e energia não são mercadorias!
Movimento dos Atingidos por Barragens
Brasil

segunda-feira, 14 de março de 2011

Cartilha sobre as Grandes e Pequenas Hidrelétricas na Bacia do rio Uruguai, um Guia para Organizações e Movimento Sociais.

Do site Combate ao Racismo Ambiental

Neste dia 14 de marco, Dia Internacional de Luta contra as Barragens, os Amigos da Terra Brasil (NAT), o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Instituto Gaucho de Estudos Ambientais (InGa) e o Sindicato dos Eletricitários de Santa Catarina (Sinergia) lançam a Cartilha sobre as Grandes e Pequenas Hidrelétricas na Bacia do rio Uruguai, um Guia para Organizações e Movimento Sociais.

Depois de 7 grandes centrais hidrelétricas e dezenas de PCHs construídas na bacia, o rio Uruguai e seu afluentes seguem ameaçados por empreendimentos de alto risco social e ambiental, como o complexo binacional de Garabi e as UHEs de Garibaldi e Pai Querê. A publicação traz, com as lutas históricas das populações atingidas e a organização dos movimentos sociais e ambientais na bacia, lições aprendidas, mapas e informações atualizadas sobre a situação de cada empreendimento, visando fortalecer os processos de resistência na região trinacional do rio Uruguai e em outros territórios ameaçados pela construção de grandes represas.

Para a engenheira ambiental Bruna Engel, dos Amigos da Terra, “o acesso à informação é uma base importante para a organização social na luta por direitos humanos e da natureza”. Os Amigos da Terra Brasil há anos acompanha os impactos socais e ambientais da construção de barragens e desenvolve campanhas pela preservação da biodiversidade e da soberania alimentar na bacia do rio Uruguai.

Rosana Mendes do MAB reforça que “nestes 20 anos de luta do MAB a bacia do rio Uruguai tem sido território de resistência mas também de organização social que deu origem ao movimento que hoje é nacional e internacional. Com um modelo consolidado de privatização das águas e da energia na região, maiores são os exemplos e lições aprendidas de que este modelo chamado de desenvolvimento a serviço das grande empresas não traz benefícios para o desenvolvimento local das populações ribeirinhas que produzem alimentos nem para os municípios atingidos”. Para o MAB é necessário construir um novo modelo de desenvolvimento, centrado na busca de condições dignas de vida para a classe trabalhadora. Cada vez mais compromisso é de nos organizarmos e de nos inserirmos nas lutas contra as transnacionais,contra a privatização, contra as altas tarifas da luz, da água e do transporte, pelos direitos dos trabalhadores, na defesa dos rios, da água e da vida.