Por Pedro Carrano, do Brasil de Fato, em Curitiba (PR)
Apenas 20% de toda produção da eletricidade em território paranaense é
usada de acordo com a demanda da população
Projetos de construções de barragens e hidrelétricas podem afetar 15 mil
famílias no Paraná, com um total de 41 unidades geradoras. Outras tantas
milhares de pessoas já foram atingidas. Temos o exemplo de Claídes,
agricultora. Seu relato emociona e ao mesmo tempo incomoda:
“Somos da geração que não tinha comprado terra, e tudo o que a gente
investiu, árvore frutífera que plantou, estava lá. Ninguém queria sair de lá,
nós morávamos na barranca do rio, sem agrotóxicos, recebemos indenização e
fomos embora, sempre falamos para Eletrosul: o sentimento de saudade jamais
vamos indenizar”, relata.
A voz de Claídes foi ouvida durante a Audiência Pública proposta pelo
Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), uma das atividades dentro da
jornada de lutas do MST (02 a 05 de junho). Realizada no Plenarinho da
Assembleia Legislativa do Paraná, as cadeiras estavam repletas de trabalhadores
rurais atingidos. As obras nos rios Chopim, Tibagi, Ivaí e Piquiri levam os
moradores de suas regiões ao centro do debate.
A audiência se dá no contexto de lançamento nacional da cartilha do MAB,
“Violação dos Direitos Humanos na Construção de Barragens”, a partir de
documento síntese elaborado pelo Conselho de Defesa dos Direitos da Pessoa
Humana, que visitou sete usinas em diversas regiões do Brasil.
Uma das conclusões é de que, nesses locais, houve piora das condições de
vida impostas à população local, durante e depois dos projetos, explica Robson
Formica, da coordenação estadual do MAB. “Há um modelo e uma política de violações
de direitos humanos no Brasil, caso das principais usinas com financiamento do
PAC e BNDES”, critica.
Durante a audiência, as conclusões são de que os impactos se assemelham –
ou precarizam ainda mais – em comparação às obras características do período
militar. O atual modelo de produção de energia continua respondendo à inserção
brasileira na divisão internacional do trabalho. “A Amazônia hoje serve para
produzir minério”, critica Antonio Goulart, do Sindicato dos Engenheiros do
Paraná (Senge), entidade participante da audiência ao lado do MDA, Incra,
mandato do deputado estadual Tadeu Veneri, entre outros.
Exportador
de energia
O estado do Paraná é um exportador de energia, responsável por 25 por
cento da eletricidade do país. Mas é fato que apenas 20 por cento de toda
produção da eletricidade em território paranaense é usada de acordo com a
demanda da população.
O quadro é de acumulação e concentração energética. Do total do consumo
de energia elétrica no Paraná em 2008, segundo dados do IPARDES, os setores
eletrointensivos, setor industrial e grandes comércios representam apenas 2 por
cento dos estabelecimentos, porém devoram 50 por cento da eletricidade.
“Dessa forma poderíamos
fazer o seguinte cálculo: de uma usina que irá produzir 100MW de energia no
Paraná, somente 20 por cento (ou 20MW) ficariam no Paraná – o restante da
energia seria exportado. Se, da energia consumida no Paraná, 50 por cento é
consumida por apenas 2 por cento dos estabelecimentos, significa que apenas 10
MW seriam consumidos pelo povo, ou estariam disponível ao povo do Paraná”, calcula Robson Formica.
Ainda de acordo com o coordenador do MAB, a diferença entre os
consumidores livres e os consumidores residenciais (população) por unidade
consumidora é de 60.618 vezes. “O que significa que uma grande industrial
eletrointensiva no Paraná consome energia capaz de abastecer a população urbana
da cidade de Guarapuava, de quase 200 mil habitantes”, explica.
Principais rios com quantidade de projetos e respectivos potenciais:
- Rio Tibagi - 05 Usinas - 1.119,0 MW
- Rio Ivaí - 08 Usinas - 886,0 MW
- Rio Piquiri - 16 Usinas - 695,2 MW
- Rio Chopim - 12 Usinas 595,0 MW
- Rio Iguaçu - 01 Usina - 350,0 MW