As mudanças climáticas relacionadas com a degradação ambiental
serão o tema dominante dos próximos anos da humanidade. Níveis crescentes de
emissões de dióxido de carbono e gás metano na atmosfera têm provocado
conseqüências desastrosas à raça humana, resultando no aumento da intensidade e
da freqüência dos fenômenos como terremotos, furacões, erupções, tornados,
inundações, entre outros.
Boa parte dos atuais problemas é provocada pelas atividades
humanas, particularmente devido ao modo de produzir e consumir. O que está
levando o planeta a uma situação tal que poderá, se nada for feito, provocar
uma alteração irreversível no clima, com conseqüências físicas, econômicas e
sociais catastróficas. São as fontes energéticas atuais como o
petróleo/derivados, gás natural e carvão mineral responsáveis por mais de 2/3
das emissões de gases de efeito estufa no mundo.
O atual momento de investimentos e crescimento econômico que passa
o estado de Pernambuco deve ser analisado criticamente, pois obedece a uma
mentalidade desenvolvimentista, ainda calcada na visão do século passado do
"crescimento a qualquer custo", ignorando a dimensão sócio-ambiental.
Temos de nos posicionar contra clichês alardeados e flagrantemente falsos, que
dizem respeito ao modo de governar o estado, de ser o novo, de se proclamar
como exemplo para "um novo caminho para um novo Brasil".
Alem do desmatamento permitido (mangues e o pouco que resta de
fragmentos da Mata Atlântica) para a ampliação do Complexo Industrial e
Portuário de Suape, o governo do estado tem incentivado e justificado
empreendimentos de geração de energia elétrica, como a implantação das
termoelétricas movidas a combustíveis fósseis. Em maio de 2010 foi anunciada
pelo grupo finlandês Wärtsilä a construção da usina termelétrica Suape II, com
uma potência instalada de 380 MW, em um terreno localizado às margens da
rodovia PE-60, funcionando com óleo combustível; uma sujeira só para o meio
ambiente. O projeto do tipo "chave na mão" (turnkey) pertence a um
grupo formado pela Petrobrás e a Nova Cibe Energia (Grupo Bertin), prevendo o
início de operação comercial para 1º de janeiro de 2012.
O óleo combustível, que dentre os combustíveis fósseis é o que
mais contribui ao efeito estufa e para as mudanças climáticas, emite para cada
0,96 m³ de óleo consumido 3,34 toneladas de CO2, segundo a Agência
Internacional de Energia. Estima-se que a emissão anual desta instalação será
de pelo menos 2 milhões de toneladas de CO2.
A construção no município do Cabo da Usina Termoelétrica Suape II,
com previsão de outra termoelétrica (a Suape III?) também movida a óleo
combustível, é exemplo de empreendimento que vai na contramão do grande desafio
atual, o da substituição dos combustíveis fósseis pelas fontes renováveis de
energia.
Em nome de alavancar o desenvolvimento do Estado, com
investimentos na região, criação de novos postos de trabalho e geração de
renda, se perpetua um modelo predatório, cujas conseqüências podem ser
traduzidas na aceleração da degradação ambiental e no aumento das emissões de
gases de efeito estufa, responsável pelas mudanças climáticas. Além de
pressionar os problemas econômicos e sociais com mais concentração da riqueza
gerada.
Apesar do discurso pela busca de sustentabilidade entre empresas e
governo ser cada vez mais recorrente, Pernambuco tem aumentado a produção e o
consumo de energia suja. Aqui o crescimento econômico não combina com
preservação ambiental, pois tem gerado um aumento da poluição, que torna seu
desenvolvimento insustentável.
Heitor Scalambrini Costa é professor associado da Universidade Federal
de Pernambuco